Os riscos da automedicação e do uso indiscriminado de medicamentos

Em 2019, a ONU (Organização das Nações Unidas) divulgou um relatório que previa que, no mundo todo, a automedicação pode matar até 10 milhões de pessoas por ano até 2050. Além disso, o documento também mostra o prejuízo na economia: até 2030, a resistência antimicrobiana levará aproximadamente 24 milhões de pessoas à extrema pobreza.

Automedicação no Brasil

De acordo com os dados coletados pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), no Brasil cerca de 40% a 60% das doenças infecciosas já são resistentes a medicamentos. Em 2019, mais de 700 mil pessoas tiveram como causa da morte alguma doença resistentes a medicamentos. Só de tuberculose multirresistente, foram registrados 230 mil óbitos.

O Conselho Federal de Farmácia (CFF) realizou uma pesquisa que concluiu que 77% dos brasileiros que fizeram uso de medicamentos num período de seis meses se automedicaram. Entre os medicamentos mais utilizados pelos brasileiros no período da pesquisa estão analgésicos e antitérmicos (50%), antibióticos (42%) e relaxantes musculares (24%). E o principal motivo é a falta de políticas públicas efetivas, que leva a população que não consegue assistência médica à automedicação.

Resistência Antimicrobiana

Já tratamos sobre a resistência antimicrobiana aqui no blog. Atualmente, é considerada uma das maiores ameaças para as comunidades globais. E infecções comuns, como as de trato urinário, respiratório e sexuais, também se enquadram nessa. O Brasil, numa iniciativa da OMS (Organização Mundial de Saúde), aderiu a um plano para combater e controlar a resistência antimicrobiana que deve ser implementado esse ano. Medidas como restringir a compra de antibiótico mediante apresentação de receita médica e conscientização da população fazem parte do plano de ação. A recomendação é de priorizar ações nacionais para ampliar os esforços de financiamento e capacitação; implementação de sistemas regulatórios mais fortes e de apoio a programas de conscientização para o uso responsável de antimicrobianos e investimentos em pesquisa e no desenvolvimento de novas tecnologias, para combater a resistência antimicrobiana.

Em 2021, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) emitiu um comunicado que discorre sobre os riscos à saúde causados pelo uso indiscriminado de medicamentos sem orientação profissional, e também sobre o processo de notificação de eventos adversos.

Principais riscos da automedicação e uso indiscriminado de medicamentos

Todos os medicamentos apresentam riscos, e a relação benefício-risco deve ser parte da equação. Os benefícios para o paciente devem superar os riscos decorrentes do seu uso. Essa avaliação precisa ser baseada em critérios técnico-científicos, levando-se em consideração o paciente enquanto indivíduo e o conhecimento prévio da doença.

Os principais riscos da automedicação e uso indiscriminado de medicamentos são:

  • Agravamento de doenças: o uso inadequado de uma medicação pode esconder sintomas típicos de determinada doença, e mascarar o diagnóstico.
  • Combinações inadequadas: o uso concomitante de dois medicamentos, sem orientação médica, pode acarretar em anulação ou potencialização do efeito de um dos remédios, com consequências graves. Reações alérgicas e até a choques anafiláticos ocorrem com a mistura inadvertida de medicações.
  • Intoxicação: diversos fatores influenciam a posologia de um medicamento, e cabe a um profissional de saúde prescrever a dose correta. A automedicação é a principal causa da intoxicação por medicamentos, que pode causar sudorese, diarreia, vômito, tontura, palpitação, mudança de comportamento, sedação e até a morte.
  • Resistência aos medicamentos: o uso indiscriminado de um determinado medicamento pode causar uma resistência dos microrganismos à substância. Essa resistência, em geral, prejudica a eficácia dos tratamentos em infecções futuras, por exemplo.
  • Reações adversas e efeitos colaterais: cabe ao profissional de saúde avaliar os benefícios e as reações adversas e efeitos colaterais. O uso de medicações em horários impróprios ou em doses incorretas aumenta as chances de reações adversas e efeitos colaterais, que poderiam ser minimizados caso a medicação fosse prescrita por um profissional qualificado.

O professor universitário e farmacêutico Felipe Vitali Lorensini acredita que “a orientação e o acompanhamento do profissional ajuda o paciente a entender a doença e como ele vai tratar ela da melhor forma possível. Isso inclui a concentração ideal e os horários corretos para a medicação. Vale ressaltar que a saúde é um sistema multidisciplinar, no qual se incluem médico, farmacêutico, enfermeiros e outros profissionais que atuam na garantia da qualidade de vida do paciente”.

Peça orientação a quem de fato sabe sobre medicamentos. Não se automedique.

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