No segundo sábado do mês de outubro é celebrado o Dia Mundial dos Cuidados Paliativos, que este ano é no dia 9 de outubro. No Brasil, o tema da campanha de 2021 é “Meu cuidado. Meu direito”, e tem como objetivo chamar a atenção para o direito que toda pessoa com uma doença grave tem de receber o atendimento de cuidados paliativos adequados, dentro da política pública de saúde, e a necessidade de se priorizar o financiamento de cuidados paliativos na Cobertura Universal de Saúde. A Academia Nacional de Cuidados Paliativos é o principal órgão de representação multiprofissional da prática paliativa no Brasil, e impulsionador da campanha.
Mas, o que são os cuidados paliativos?
Cuidados Paliativos
De acordo com o oncologista, cientista e escritor brasileiro Dr. Drauzio Varella:
“Houve um tempo em que a Medicina tratava os doentes enquanto considerava haver possibilidade de cura. Depois, os médicos aconselhavam a família a levar o paciente para morrer em paz em casa. Infelizmente, na grande maioria dos casos, essas pessoas morriam no meio de sofrimento atroz, desassistidas. De uns anos para cá, e já não sem tempo, a medicina resolveu assumir a responsabilidade que lhe cabe nessas situações. O compromisso do médico só termina com a morte do paciente, quer ele esteja em casa ou no hospital. Essa nova concepção de atendimento aos doentes fez florescer a especialidade de cuidados paliativos. Seu principal objetivo é aliviar o sofrimento e melhorar a qualidade de vida dos pacientes com doença ativa e progressiva que ameace a continuidade da vida”.
Em 1990, a OMS (Organização Mundial de Saúde) definiu que os cuidados paliativos eram parte da assistência integral ao ser humano. É a assistência que cuida de doentes crônicos, com enfermidades em progressão, que ameaça a continuidade da vida. Essa especialidade trata do doente, e não da doença, olhando suas necessidades e sintomas como um todo. Estende, ainda, o olhar sobre a família e o cuidador durante o tratamento e presta-lhes assistência depois da morte, no período de luto.
Tipos de cuidados paliativos
São muitos os cuidados paliativos no dia-a-dia. Há diferentes tipos, pois as necessidades do paciente vão além dos sintomas físicos. Veja a seguir:
Cuidados Físicos
Com o foco em garantir o conforto físico e o bem estar do paciente. Médicos, enfermeiros, fisioterapeutas e nutricionistas são alguns dos profissionais responsáveis por esses cuidados.
O principal e mais recorrente sintoma físico a ser tratado é a dor. Mas outros sintomas também são comuns, como por exemplo:
- Fadiga e cansaço extremos;
- Falta de ar;
- Náuseas e vômitos;
- Tonturas, vertigens e desmaios;
- Perda de apetite e emagrecimento;
- Escaras e feridas provocadas por tumores que não cicatrizam;
- Soluço;
- Insônia.
Cuidados Sociais
Visam a garantir que o paciente está bem assistido e tem apoio familiar para ajudar nos cuidados, e averiguar possíveis obstáculos sociais que impeçam o tratamento de ser realizado de forma correta. Os assistentes sociais geralmente são encarregados desses cuidados.
Cuidados Psicológicos
Os cuidados psicológicos focam em ajudar o paciente a enfrentar a situação sem dor emocional. Depressão, ansiedade, medo, angústia e solidão são alguns problemas que podem surgir nessa fase, além de questões como redescobrir o sentido da vida. O psicólogo faz um trabalho indispensável nessa etapa de cuidado.
Cuidados Espirituais
A espiritualidade tem um peso importante, tanto para aliviar o sofrimento do paciente quanto como ferramenta para enfrentar o luto dos familiares. A busca da identidade e do sentido da vida, quando o paciente se depara com a situação terminal, costumam ser processos inevitáveis, e a equipe multidisciplinar de cuidados paliativos tem de estar preparada para lidar com tudo isso.
Cuidados Paliativos e Câncer de Mama
O INCA (Instituto Nacional de Câncer) prega que os cuidados paliativos para o paciente com câncer de mama seguem os princípios gerais, que são:
- Fornecer alívio para dor e outros sintomas estressantes como astenia, anorexia, dispnéia e outras emergências oncológicas;
- Reafirmar vida e a morte como processos naturais;
- Integrar os aspectos psicológicos, sociais e espirituais ao aspecto clínico de cuidado do paciente;
- Não apressar ou adiar a morte;
- Oferecer um sistema de apoio para ajudar a família a lidar com a doença do paciente, em seu próprio ambiente;
- Oferecer um sistema de suporte para ajudar os pacientes a viverem o mais ativamente possível até sua morte;
- Usar uma abordagem interdisciplinar para acessar necessidades clínicas e psicossociais dos pacientes e suas famílias, incluindo aconselhamento e suporte ao luto.
Maria Goretti Sales Maciel, médica pioneira nos Cuidados Paliativos no Brasil, acredita que todo paciente percebe quando sua vida está chegando ao fim, e acrescenta que “Nesse período, é importante ouvir o que têm a dizer, seus desejos e necessidades, e tranquilizar a família. Há doentes que pedem para morrer em casa ao lado de determinada pessoa. É interessante atender a esse pedido. A melhor forma de abordá-los nessa fase é assegurar-lhes que não iremos abandoná-los, que sua família está ali e que desejamos que termine a vida com tranquilidade”.