Semana Internacional dos Surdos: Inclusão nas escolas, sociedade e mercado de trabalho.

No texto anterior, falamos sobre as causas e tipos de surdez, e como preveni-la. 

Ainda tendo em mente o Dia Nacional dos Surdos, o Dia Internacional da Linguagem de Sinais e a Semana Internacional dos Surdos, vamos debater a inclusão nas escolas, sociedade e mercado de trabalho.

A relação surdos-ouvintes, no decorrer da história, foi muito difícil. Na verdade, ainda o é. A comunidade surda era forçada a usar a língua oral e a fazer leitura labial, privada de expressar-se através da linguagem de sinais. Caso insistissem, os surdos eram castigados, com pés e mãos amarrados, para reprimir a tentativa de evolução da linguagem.

Os surdos e as escolas

Os surdos não precisam, e nem querem, de escolas especiais. A interação dos ouvintes com com os surdos é parte integrante do processo de crescimento de ambos, respeitando e conhecendo o jeito deles de identificação e comunicação. Atualmente, entende-se que os surdos não precisam ser oralizados. Eles são capazes de aprender e conviver em sociedade, se expressando na sua própria língua, o que é necessário é acessibilidade.

Andréia Márcia Silva, pedagoga especialista em Libras, e Deyse Almeida dos Reis, gestora de qualidade e bióloga, escreveram um artigo publicado em 2020 sobre a importância da inclusão dos surdos em escolas regulares. Elas acreditam que a formação de professores, pedagogos, diretores e todas as pessoas que formam a comunidade escolar é o primeiro – e mais importante – passo para a fundamental inclusão das crianças surdas nas escolas regulares. Dessa maneira, todos os alunos têm qualidade e eficácia no ensino.

“A pedagogia da exclusão precisa continuar sendo rebatida, pois a segregação não ficou para trás na prática”, elas acrescentam.

Libras na escola

Se um surdos precisa aprender Libras e português para se comunicar com os ouvintes, o mesmo deveria acontecer com os ouvintes. Nas escolas de ensino regular, há intérpretes de Libras apenas nas salas com crianças surdas. O ideal seria que todas as crianças ouvintes aprendessem Libras, do básico ao avançado conforme fossem progredindo de série. O intérprete só resolve a questão da criança surda, pontualmente. Mas exclui a comunidade surda do quadro escolar – professores, diretores e pedagogos surdos não conseguiriam se comunicar com os ouvintes.

Enquanto os brasileiros são estimulados a aprender outras línguas orais, como inglês e espanhol, sendo muitas vezes requisitos básicos para uma oportunidade no mercado de trabalho, o mesmo não acontece com Libras. Os oralizados contentam-se com o trabalho dos intérpretes.

Nas escolas, há crianças surdas que encontram dificuldade de compreensão, e por isso não absorvem as matérias explicadas em aula. Isso causa resultados negativos nas notas, mas principalmente no desenvolvimento intelectual desses alunos. Embora raramente crianças surdas demonstrem prejuízos cognitivos, devido à precariedade da inclusão do surdo na comunidade escolar, elas não conseguem alcançar resultados mais positivos.

“É vital que as escolas regulares sejam realmente inclusivas e efetivas, promovendo a necessária integração social e cultural. Embora os professores intérpretes sejam importantes, ainda são poucos, o que reforça a necessidade de toda a comunidade educativa aprender Libras”, concluem Andréia e Deyse.

Segundo pesquisa realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em 2010, 7% dos surdos têm curso superior completo, 15% o ensino médio, 46% o fundamental e mais de 32% não têm escolaridade alguma.

Os surdos e a sociedade

Imagine o desafio de um cidadão que só fala vietnamita no Brasil? Como pedir um prato num restaurante, assistir a uma peça de teatro ou explicar os sintomas que está sentindo em um hospital? Sem um tradutor, ou falantes de vietnamita, esses diálogos seriam impossíveis.

Pois é isso que acontece com os surdos todos os dias.

Os hospitais, tanto públicos quanto particulares, laboratórios, clínicas e postos de saúde não contam com profissionais habilitados para atender um surdo. Não há intérpretes de Libras nesses locais. O mesmo acontece com restaurantes e bares, pontos turísticos, lojas e demais estabelecimentos comerciais em geral.

No que diz respeito a lazer e cultura, tem havido alguns avanços, embora ainda sejam poucos. Alguns programas de TV, teatros e museus atualmente contam com intérpretes de Libras. Mas muitas ações inclusivas precisam ser feitas para que os surdos tenham as mesmas oportunidades de lazer que os ouvintes.

Os surdos e o mercado de trabalho

De acordo com o IBGE, 43% dos surdos trabalham em empresas privadas e 37% são trabalhadores informais ou autônomos. Devido à falta de oportunidade de empregos, muitos não têm opção a não ser a de dependentes de algum benefício social. 

Novas e efetivas estratégias de inclusão precisam ser implementadas, para que os surdos possam exercer a sua cidadania, estudar, se profissionalizar, ter liberdade financeira e autonomia.

São poucas as empresas no Brasil que oferecem oportunidades para surdos em suas equipes. É de responsabilidade das empresas fazerem as adaptações necessárias no ambiente de trabalho para receber uma pessoa surda. Adaptação de alarmes, diversificação das formas de comunicação sonora, painéis luminosos, patrocinar curso de Libras para a equipe e investimento em plataformas para videoconferências com janela de libras, são algumas das mudanças que garantem um ambiente de trabalho com acessibilidade comunicativa e autonomia.

Vamos juntos trabalhar por um mundo mais acessível e inclusivo. Essa luta é de todos.

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