Neurodiversidade: conceito, inclusão e representatividade

Diversidade. Aquilo que é diverso, diferente, variado, múltiplo. Quanto mais diverso um ambiente, mais rico ele é. Assim também são as pessoas. A diversidade enriquece toda a sociedade.

Estima-se que 1 em cada 8 pessoas seja neurodivergente, mas apenas 50% delas sabem dessa condição. Mas, o que é neurodiversidade?

Neurodiversidade: o que é?

Neurodiversidade nada mais é do que as variações naturais no cérebro humano em relação à sociabilidade, aprendizagem, atenção, humor e demais funções cognitivas.

O termo foi usado pela socióloga, escritora e pesquisadora australiana Judy Singer em 1998, na sua tese da University of Technology Sydney.

Judy, que está no espectro autista – assim como a sua mãe e a sua filha -, usou o termo para descrever condições como autismo, dislexia e transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH). Até bem recentemente, todas as pessoas com essas condições eram tratadas como doentes ou com distúrbios, e não pessoas com funcionamento neurocognitivo diverso.

A diversidade das condições neurológicas vêm das variações normais no genoma humano, e não existe um “gabarito” de normalidade, não há um padrão.

Neurodiversidade nas empresas

Uma pesquisa feita no Reino Unido pela National Autistic Society em 2016 percebeu que somente 16% dos adultos no espectro autista trabalham em tempo integral e 77% dos desempregados querem uma oportunidade para trabalhar. Essas informações estão no relatório Autism Employment Gap.

Esses dados são reflexos dos estigmas associados à neurodiversidade. Ter um cérebro neurodivergente pode, na verdade, ser interpretado como uma vantagem competitiva no mercado de trabalho.

A psicanalista americana Jill Miller, consultora sênior em inclusão e diversidade do Chartered Institute of Personnel and Development (CIPD), destaca alguns benefícios de contratar pessoas neurodivergentes: por serem pessoas que literalmente pensam diferente, as empresas podem encontrar soluções não óbvias e pouco ortodoxas para os problemas que surgem no dia a dia. Por isso, grandes empresas como Google, SAP, Ford e Amazon possuem, ou estão implementando, iniciativas de neurodiversidade no ambiente de trabalho, especialmente voltadas para os times de alta performance e inovação.

Para que essas capacidades sejam desenvolvidas, o mundo corporativo precisa aprender a recrutar, gerenciar e apoiar equipes neurodivergentes, para garantir que todos os funcionários tenham iguais chances de crescimento.

Inclusão e representatividade

Esse movimento das empresas acima ainda é ínfimo comparado à quantidade de pessoas neurodivergentes que querem trabalhar, e viver uma vida “normal”. A luta é para que haja uma maior compreensão, consciência e aceitação da neurodiversidade na sociedade. O objetivo não é de procurar a cura para o cérebro que funciona de maneira diferente, mas inseri-los como parte do todo, dando condições e apoio necessários para que possam participar ativamente como membros da sociedade. Ambientes escolares, de trabalho e espaços de convivência social precisam ser acolhedores e estimulantes, prestando atenção às necessidades específicas de cada indivíduo.

A ABRAÇA publicou em 18 de junho de 2021 o Manifesto da Neurodiversidade Interseccional Brasileira, onde eles pedem que haja “uma mudança profunda, neurodiversa, interseccional, anticapacitista e antidiscriminatória no modo como pessoas autistas são vistas e tratadas em nosso país”. As pessoas neurodivergentes são vistas como se fossem um único indivíduo, sendo ignoradas todas as suas outras características e marcadores sociais, como raça, gênero, religião, classe socioeconômica ou orientação sexual. Essa invisibilidade se dá justamente por falta de representatividade.

Uma das principais bandeiras dos neurodivergentes, especialmente das pessoas no espectro autista, é a de poderem representar suas próprias demandas. “Nada sobre nós sem nós” expressa a importância da autorrepresentação. Mas o acesso à comunicação, à vida acadêmica e às carreiras políticas, por exemplo, são negadas ou dificultadas.

As diferenças neurológicas precisam ser reconhecidas e respeitadas, do mesmo jeito que devemos respeitar outras categorias sociais, como gênero, etnia, orientação sexual ou classe socioeconômica. São características dos seres humanos, parte de suas identidades e, por isso, não necessitam de cura.

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